quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Lizarazu:"seguramente que ele vai sair"

A exibição de Fábio Coentrão no encontro com o Lyon impressionou o comum dos presentes na Luz, incluindo um antigo... defesa-esquerdo que foi "só" campeão europeu e mundial: Bixente Lizarazu. Já retirado, o futebolista que participou nas conquistas do Mundial de 1998 e do Europeu de 2000 é agora comentador televisivo - da TF1, principal canal gaulês - e foi nesse papel que esteve terça-feira em Lisboa. Em conversa com O JOGO, Lizarazu não se mostrou, porém, surpreendido com o lateral das Caxinas. Aliás, depois de uma primeira pergunta sobre o encontro que os encarnados ganharam (4-3), o nome de Fábio Coentrão provoca mesmo um sorriso ao francês. "Eu disse durante o Mundial que para mim ele era o melhor lateral-esquerdo da competição. Não o conhecia, mas aquilo que ele fez na África do Sul foi de um jogador de alto nível", explica Lizarazu. "Hoje [terça-feira], fez um grande jogo, jogou a um nível muito alto. Estou convencido de que [pausa]... é uma pena para o Benfica, mas seguramente que ele vai sair. Aliás, pensava que a seguir ao Mundial ele fosse para um Real Madrid ou um Barcelona", assinala, em espanhol fluente, acrescentando um dado incontornável: "Bom, com José Mourinho no Real, ele que conhece bem os jogadores portugueses, seguramente que vai tentar vir aqui buscá-lo e não o vai deixar escapar."

Lizarazu considera mesmo que os 30 milhões de euros da cláusula de rescisão do lateral-esquerdo do Benfica não representam um preço exagerado. "Quanto é que o Real Madrid queria dar pelo Maicon, do Inter? Queriam pagar bastante. A questão do preço depende sempre de vários factores. E o Fábio Coentrão, além de ter o perfil de um grande lateral, ainda é um jogador muito jovem [22 anos]", lembra o antigo futebolista, que encerrou a carreira em 2006, no Bayern de Munique, precisamente um dos clubes que já se manifestaram interessados no camisola 18 dos encarnados. "Para o Bayern seria fantástico ter um lateral como ele. Tem técnica, tem muita habilidade. Basta ver estes dois golos espectaculares que fez ao Lyon", salienta. "Ainda por cima não é fácil aparecerem laterais-esquerdos assim. É uma posição especial", reconhece Lizarazu, insistindo: "Ele já está num grande clube, como é o Benfica, mas os clubes portugueses são como os franceses: é difícil competir com um Real Madrid, um Barcelona ou um Manchester. E por isso ele não irá ficar muito tempo em Portugal, ainda mais depois do que fez neste jogo na Champions. Se pode fazer uma carreira como a minha [risos]? Tem de continuar a trabalhar e jogar sempre com concentração, mas, sim, ele tem tudo para fazer uma grande carreira internacional.

"Imagem muito boa de futebol ofensivo"

Embora o resultado tenha sido desfavorável ao clube do seu país, Lizarazu gostou de ver o futebol praticado pelo Benfica, apesar da desconcentração final que permitiu ao Lyon reduzir para 4-3. "Deu uma imagem muito boa de futebol ofensivo. Nos últimos minutos, teve alguma falta de concentração, que lhe custou três golos sofridos, mas isso não apaga o jogo que fez", considera. "O Benfica jogou bom futebol, jogou com generosidade. É assim, generosidade? Pois, gostei muito do Benfica", resume o antigo futebolista de Bordéus, Atlético de Bilbau, Bayern de Munique (onde venceu seis vezes a Bundesliga) e Marselha.

Tocou seis vezes na bola para marcar... cinco golos

Fábio Coentrão assiste, marca golos e entusiasma. E neste capítulo dos festejos não deixa de ser curioso o facto de o fazer quase sempre em finalizações de primeira. Contra o Lyon, foram mais dois alcançados desta forma, mas Coentrão já tinha mais três golos apontados de águia ao peito. Adivinhe-se: dois destes (Monsanto e Marítimo) arrancados ao primeiro toque no esférico. Só contra o BATE Borisov precisou dominar primeiro o esférico. De resto, em toda a sua carreira anterior à Luz Coentrão apontara oito golos: dois de primeira - um de grande penalidade, é certo -, quatro dando apenas dois toques e apenas um par em lance mais trabalhado.

E com o clássico com o FC Porto ao virar da esquina, o miúdo das Caxinas sabe bem o que é marcar no Dragão. Já lá vão três golos - um pelo Rio Ave em 2008/09, e dois pelo Nacional, em 2007/08) -, dois deles de belo efeito. Basicamente, só lhe falta marcar pelo Benfica na casa azul e branca.

Técnico é pai, Nuno Gomes é o irmão mais velho

Coentrão explodiu ao mais alto nível de águia ao peito e, desde o primeiro minuto, tem atribuído um forte protagonismo a Jorge Jesus nesta sua segunda passagem pela Luz. O lateral-esquerdo já tinha chegado ao Benfica no Verão de 2007, proveniente do Rio Ave, mas não convenceu ninguém na Catedral. E depois de algumas experiências, sempre por empréstimo - a pior, assinalada com os meses passados em Saragoça -, encontrou desde a última época aquele a que muitas vezes se tem referido como "pai". Mas se o treinador tem sido, sublinha o próprio Coentrão, fundamental para esta elevação de patamares, há um outro elemento muito importante no grupo benfiquista: Nuno Gomes. Desde o primeiro dia em que Coentrão voltou à Luz disposto a singrar, o camisola 21 tem sido um apoio na integração e é um dos jogadores mais próximos do miúdo das Caxinas. O ponta-de-lança é um dos principais conselheiros de Coentrão e, lá está, empurra-o para o sucesso.

Discutiu com Luisão

No último embate com o Lyon foi bem visível a discussão de Fábio Coentrão com Luisão, após o primeiro golo dos franceses. Os dois jogadores travaram-se de razões e, mais tarde, o camisola 4 viria a justificar o cenário, garantindo que tudo não foi mais do que "a grande vontade de vencer de ambos". A situação resolveu-se ainda no relvado.

Jesus só abre mão dele no fim da época

Por esta altura já vai sendo unânime que Fábio Coentrão não irá continuar muito mais tempo de águia ao peito. As grandes exibições têm vindo a chamar a atenção de grandes emblemas europeus já desde a última época e o cerco continua a apertar-se. Ainda na última terça-feira, lá esteve o AC Milan - entre outros grandes do Velho Continente - a tirar notas do camisola 18. Jorge Jesus está, melhor do que ninguém, a par das movimentações, sabe que será difícil contar com o lateral-esquerdo na próxima época, mas também já fez saber que não pondera perdê-lo já nesta reabertura do mercado, em Janeiro.

O técnico já disse, inclusive, aos responsáveis encarnados que Coentrão é uma peça fundamental nas suas contas e a sua saída significaria um forte golpe na luta pela revalidação do título nacional. A SAD está igualmente consciente do assédio ao internacional português, daí também ter fortalecido o vínculo ao clube - com respectivo aumento salarial do jogador -, com o claro intuito de enviar uma mensagem para o mercado: Coentrão está ligado à Luz até 2016 (!) e quem o quiser levar terá de pagar os 30 milhões de euros da cláusula de rescisão. O único senão para uma saída em Janeiro rumo a um destes "tubarões" é que o lateral já não poderá ser utilizado na presente edição da Champions.

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