quarta-feira, 6 de julho de 2011

A novela Coentrão e as outras


Terminou a novela Fábio Coentrão. E acabou da maneira óbvia, com o Real Madrid a satisfazer o pedido do técnico, com o Benfica a vender um dos seus jogadores mais valorizados, com o futebolista a mudar-se para aquele que, afinal, é o emblema dos seus sonhos, com José Mourinho a reforçar o contingente luso na formação merengue e, já agora, com Jorge Mendes a protagonizar nova transferência milionária. Por outras palavras… tudo normal.

Mas, ao invés, normalidade é coisa que não tem imperado neste defeso/arranque de temporada no conjunto das águias. Significa isso que os encarnados partem em desvantagem rumo à nova época? Não, mas admito que o cenário – para quem necessita de recuperar, quanto antes, dos traumas recentes – está longe de ser o ideal. E muito por culpa própria.
Luís Filipe Vieira, escaldado com os desaires dos últimos meses, anunciou que voltaria a estar mais em cima das operações e que o clube passaria a contratar com outro rigor. Porém, várias semanas volvidas (e pese a dedicação do dirigente), não se notam grandes diferenças. Bem pelo contrário. O Benfica soma um número invulgar de profissionais que, arrisco dizer, nenhum adepto (por mais atento) consegue enumerá-los a todos. Adepto? Tenho a certeza que nem o presidente, nem Jorge Jesus, terão capacidade para, de enfiada, dizer quem tem contrato válido com o clube.

Jovens e menos jovens; de guarda-redes a avançados ou de defesas a médios; sul-americanos, europeus e (poucos) portugueses; internacionais A, Sub-21, 20 ou menos; experientes ou sem a mínima "rodagem" ao alto nível; com nome feito, em crescendo ou ilustres desconhecidos. À Luz, num ápice, chegou uma extensa lista de reforços que se juntaram aos atletas que transitaram da temporada anterior e aos que, um pouco por todo o lado, estiveram emprestados. Todos juntos eram (e continuam a ser) mais que muitos, suficientes para fazer umas duas equipas extensas ou três curtas. E é público que as portas ainda não estão fechadas. Para entradas e necessariamente também para saídas. O problema é que ninguém sabe se, após a triagem, a matéria-prima chegará para construir um bloco efectivamente coeso e competitivo, nomeadamente no que se refere ao sector defensivo. Depois de acabar a temporada passada a sofrer golos em todos os jogos deveria ser urgente olhar com precisão para essa área...

O Benfica tem historicamente dificuldades em arrancar a época com o plantel praticamente construído. Seja por causa das competições internacionais ou devido a atrasos nas opções, a verdade é que essa é uma tendência que tende a atrapalhar a solidificação de um grupo que, habitualmente, tem significativas alterações em relação à temporada anterior. Esta época não é excepção. Mais estranha é a forma de gerir o processo, ainda com inúmeras interrogações e uma impensável falta de soluções na defesa (que pode agravar-se caso Luisão reforce a intenção de mudar de ares) quando, já se sabe, a época começa muito cedo "a sério", com a pré-eliminatória da Liga dos Campeões.

Como é que Jesus aceitou emprestar Sidnei (activo em que a SAD investiu imenso para, logo de seguida, o treinador o desvalorizar continuamente), sabendo que Luisão iria estar no escrete e Roderick a preparar o Mundial Sub-20? E perante esse cenário, como se explica que o desconhecido Leo Kanu seja cedido antes do estágio, obrigando a "ressuscitar" apenas no último momento Miguel Vítor e a solicitar o "empréstimo" de Roderick à FPF? Mais confuso: será que também ninguém se lembrou que o argentino Garay pode ficar retido no seu país, por causa da Copa América, falhando o arranque da "Champions" ou, em alternativa, terá de jogar sem praticamente conhecer os companheiros?

Os próximos dias serão determinantes para a época encarnada. A campanha anterior, na óptica de muitos analistas (subscrevo a ideia), ficou marcada pelo desaire inicial na Supertaça. Esta temporada, um falhanço logo a abrir na "Champions", pode voltar a ter consequências nefastas. Para a equipa, mas também para Jesus e até para Vieira. É que agora não há estado de graça. Para ninguém!

PS – Os negócios entre Benfica e Real Madrid começam a ser recorrentes. Curioso é que, no meio de vendas e mais vendas, não se percebe bem por quanto é que, efectivamente, são transaccionados alguns passes. Apenas se fica com a ideia de que nem tudo o que é dito corresponde à verdade absoluta. Mas, bem vistas as coisas, isso não é sempre assim no futebol?
Escrito por: Luís Avelãs
Fonte: Blog Record

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