Com nove jogos oficiais disputados nesta época - descontando a Supertaça Cândido de Oliveira, disputada logo no início de Agosto -, Jorge Jesus parece já ter encontrado a fórmula para fazer a águia voar... sem asas. A saída de Di María deixou a formação da Luz praticamente órfã de profundidade pelo flanco esquerdo, e o herdeiro da camisola 20 não veio emprestar as mesmas características ao posto. Por esta altura, já é (mais do que) nítido que Gaitán só se pode assemelhar a Angelito no que à qualidade técnica acima da média diz respeito, e coube a Jesus encontrar a estratégia ideal para manter a equipa na senda das vitórias sem a mesma capacidade para flanquear o jogo. Neste capítulo, importa não esquecer também a despedida de Ramires, que, na direita, se afirmou como um verdadeiro faz-tudo. E se, com Gaitán, o desenho até se mantém relativamente ao que acontecia na última época, a dinâmica ofensiva teve de ser alterada.
O último encontro dos encarnados, frente ao Braga, foi apenas mais um exemplo claro de como Jorge Jesus planeia olear a máquina de olho na revalidação do título. Ainda não se joga de olhos fechados, há muito sofrimento, mas o técnico tem bem clara a nova fórmula para integrar o reforço argentino num modelo que quase sempre leva muita gente para o ataque. Na prática, quando a equipa tem a posse de bola forma-se um póquer de ases no apoio ao ponta-de-lança, seja ele Cardozo ou Alan Kardec.
E o cenário não é complicado de explicar. Uma vez que as características do ex-Boca Juniors o levam a pender quase invariavelmente para o centro do terreno, é Fábio Coentrão quem tem ordem para assumir as rédeas e tentar - regra geral, através de combinações simples - ganhar a linha de fundo. A função obriga naturalmente o internacional português a grandes correrias, pois também não se pode esquecer de recuperar defensivamente quando os ataques se revelam infrutíferos.
No outro flanco, Carlos Martins procura ocupar a mesma linha de Gaitán, enquanto vê muitas vezes o inteligente Saviola "baixar" um pouco para trás do ponta-de-lança. Resultado, uma linha de quatro homens atrás do goleador (Fábio Coentrão, Gaitán, Saviola e Carlos Martins), mas que ainda tem sempre Aimar na retaguarda. El Mago integra-se, também ele, nesta linha de quatro "mosqueteiros" sempre que troca de posição com Carlos Martins. A intenção de manter quase sempre um homem ligeiramente mais recuado do que esta dita frente de apoio directo ao ponta-de-lança é dupla: tentar abrir frestas na defesa contrária através de tabelas e manter mais um elemento para aproveitar eventuais segundas bolas. E neste capítulo, já se sabe, Carlos Martins consegue elevadas doses de perigosidade para os adversários.
Na prática, quando em posse de bola Jorge Jesus quer metade da equipa declaradamente em missão ofensiva. Ao todo, cinco elementos têm apenas a preocupação de tentar chegar ao golo, e por aqui se vê que a filosofia do treinador se mantém relativamente à última época. A ideia é colocar muita gente no último terço do terreno, seja através de saídas rápidas ou em ataque continuado.
Quando é hora de reagrupamento defensivo, o esquema da última época, em losango, mantém-se. Os dois interiores têm a preocupação de apoiar os laterais, sempre de olho na necessidade de auxiliar Javi García, o homem mais recuado do meio-campo. Aimar (ou Carlos Martins) inicia pressão logo sobre a defesa adversária, tal como os dois homens mais adiantados. Os nomes... pouco interessam.
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